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Vol. 7. Issue 4 - 5.
Pages 403-405 (July - October 2001)
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Vol. 7. Issue 4 - 5.
Pages 403-405 (July - October 2001)
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Tratamento do derrame pleural do mesotelioma
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Yossef Aelony
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RESUMO

Com o declínio da utilização de asbestos na industria, é esperada uma redução na incidência do mesotelioma maligno no século XXI.

Teoricamente a cirurgia pode erradicar a doença em estádios precoces, contudo não existem casos publicados de cura.

A imunoterapia (ITE) induziu remissões a longo prazo apenas em doentes com tumores inferiores a 5mm de diâmetro em estadio I A.

Determinados factores, nomeadamente a dor torácica, emagrecimento, a presença de gânglios N2 e N3, o tipo histológico fibrossarcomatoso ou misto, idade superior a 60 anos, mau performance status, trombocitose e leucocitose (> 15000/mm3), agravam o prognóstico desta patologia. Múltiplas séries referem um melhor prognóstico nos mesoteliomas do tipo epitelial que permanece localizado habitualmente intratoracicamente e se associa geralmente a derrames pleurais volumosos. O mesotelioma do tipo fibrossarcoma e misto, metastisa frequentemente à distância e não é comum a sua associação a derrame.

O sistema TNM proposto pelo International Mesothelioma Interest Group (IMIG) será futuramente revisto, não tendo sido encontrada correlação entre o estadiamento IMIG ou o de Butchart e a sobrevida do doente.

A TAC Torácica é inadequada na detecção da invasão da parede torácica e gânglios mediastíni-cos, sendo a Tomografia emissora de positrões (TEP) mais sensível que a TAC mas apresentando alguns resultados falsos positivos e negativos.

A ressecção cirúrgica é efectuada com o objectivo de curar e como paliativa para a toracalgia. A exploração cirúrgica permite uma melhor precisão no estadiamento principalmente na era pré TEP, porém recentemente várias séries encontraram uma boa correlação com a sobrevida e as alterações observadas através da toracoscopia médica.

Apenas em 0,5 a 25% dos doentes dependendo das séries e critérios de selecção se obteve ressecção cirúrgica do doente com margens negativas, com uma morbilidade a rondar os 50% (deformação da parede torácica, toracalgia intratável entre outros). Alguns trabalhos recentes demonstraram um decréscimo da morbilidade para 5%, 30 dias após cirurgia mas com uma taxa de suicídio de 10%.

As opções terapêuticas resumidas neste artigo são baseadas nos dados disponíveis actualmente.

O tratamento de suporte é uma boa opção especialmente na doença avançada. Law e colegas publicaram uma série de doentes submetidos a tratamento paliativo com sobrevida média de 18 a 20 meses que não diferiu significativamente de um grupo similar submetido a cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Por outro lado Antman apenas referiu uma sobrevida de 4,2 meses num pequeno grupo de doentes que efectuaram tratamento de suporte.

A eficácia da radioterapia foi avaliada isoladamente ou como adjuvante de quimioterapia com resultados desanimadores. O seu principal papel reside no tratamento ou prevenção do crescimento doloroso do tumor.

A quimioterapia com a utilização de algumas associações de citostáticos conseguiu reduzir o crescimento do tumor mas nenhum esquema prolongou a sobrevida.

A experiência da pleurodese química com vários agentes esclerosantes, através de drenagem torácica é escassa e a comparação da sua eficácia em relação à talcagem toracoscópica permanece desconhecida.

A pleurodese com talco através de toracoscopia foi avaliada em algumas centenas de casos. Nesta técnica é efectuada a lise de aderências e talcagem. Das várias séries publicadas demons-trou-se uma paliação efectiva da dispneia com uma sobrevida média de 9 a 19,4 meses com uma recorrência de derrame pleural em cerca de 19% dos casos.

A base teórica do prolongamento da sobrevida posterior à talcagem deve-se ao facto de ser um agente eficaz de pleurodese e impedir o crescimento do tumor por privação dos nutrientes essenciais. A talcagem permite ao doente uma qualidade de vida superior em relação aos doentes submetidos a cirurgia. Vários trabalhos publicaram uma sobrevida semelhante entre doentes tratados ou apenas submetidos a medidas de suporte.

Os anos 90 renovaram o interesse no tratamento cirúrgico multimodular com alguns resultados positivos em doentes principalmente em estádios precoces.

Em conclusão o controle da dispneia é eficaz após talcagem toracoscópica, com resultados benéficos em termos de sobrevida. As terapêuticas mais agressivas devem ser consideradas experimentais, a menos que estudos randomizados provem o contrário.

COMENTÁRIO

A exposição a asbestos permanece o desencadeante mais comum deste raro tumor maligno primitivo da pleura com uma sobrevida média de 6 a 18 meses1.

O estadiamento da IMIG e de Butchart são discutíveis, não possuindo correlação com a sobrevida do doente1. A toracoscopia médica tem-se revelado útil no diagnóstico, no estadiamento e tratamento do tumor2.

A raridade do mesotelioma e a inexistência de protocolos e estudos em fase III tem dificultado a opção terapêutica mais correcta para cada doente, sendo controverso se os tratamentos disponíveis actualmente serão realmente eficazes com prolongamento da sobrevida. A ITE pode induzir remissão do tumor a longo prazo mas só é exequível no estádio I A (pequena % de doentes)3. A cirurgia com intuito curativo (0.5 a 25% dos casos, dependendo das séries) só efectuada em estádios precoces e em esquemas multimodulares pode apresentar uma sobrevida média até 46% aos 5 anos4,5. A cirurgia é efectuada ainda como paliativo sintomático nomeadamente da toracalgia5.

A quimioterapia e a radioterapia como opções principais terapêuticas não estão indicadas, sendo utilizadas em esquemas multimodulares ou como paliativas6.

A pleurodese química é frequentemente ineficaz1.

Este artigo defende a realização de talcagem toracoscópica quando existe derrame pleural associado ao mesotelioma, com apresentação de vários trabalhos que demonstraram paliação efectiva da dispneia e um discreto prolongamento da sobrevida com uma baixa morbilidade, uma boa relação custo/beneficio e uma qualidade de vida superior em comparação com os doentes submetidos a terapêuticas mais agressivas.

Palavras-chave:
mesotelioma
derrame pleural
toracoscopia médica
talcagem
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