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Vol. 9. Issue 1.
Pages 78-80 (January - February 2003)
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Vol. 9. Issue 1.
Pages 78-80 (January - February 2003)
AS NOSSAS LEITURAS/OUR READINGS
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Relação entre a colonização bacteriana e a frequência, o carácter e a gravidade das agudizações da DPOC
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I.S. Patel, T.A.R. Seemungal, M. Wilks, S.J. Lloyd-Owen, G.C. Donaldson, J.A. Wedzicha
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RESUMO

Uma percentagem significativa de doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) apresenta colonização bacteriana das vias aéreas inferiores que poderá constituir um importante estímulo inflamatório e assim contribuir para a frequência das agudizações.

Este estudo foi desenhado para avaliar a relação entre a colonização bacteriana em doentes estáveis e a frequência das agudizações, o seu carácter e evolução.

O estudo prospectivo envolveu 29 doentes com DPOC moderada a grave, em fase estável — definida como ausência de agudização durante pelo menos três semanas. Os doentes efectuaram análise de expectoração, preencheram registos diários de sintomas e de DEMI e reportaram à equipa as situações de agudização.

A amostra de expectoração induzida foi sujeita a exame cultural com contagem de colónias e a medição dos níveis de IL-6 e IL-8.

A presença de agudização foi definida como o aparecimento ou o aumento durante 2 dias consecutivos de quaisquer 2 critérios major (dispneia; purulência da expectoração; quantidade de

expectoração), ou de 1 critério major associado a 1 minor (corrimento ou congestão nasal; pieira; odinofagia; tosse). Um membro da equipa confirmaria o diagnóstico de agudização num intervalo de 48 horas.

RESULTADOS DO ESTUDO

  • Durante o período de 18 meses registaram-se 94 agudizações, 4 motivando internamento e 51 justificando o uso de antibioterapia oral.

  • Registou-se igual número de doentes com agudizações frequentes e infrequentes, conforme número de agudizações superior ou inferior a 2,58 por ano (média anual do total dos doentes). Os dois grupos apresentavam características fisiológicas semelhantes, à excepção da idade ser superior nos oentes com agudizações infrequentes.

  • Os 29 doentes estudados, 21 do sexo masculino, apresentavam média de idade de 66 anos e FEV1 médio de 38,7% do valor preditivo.

  • O exame cultural da expectoração induzida foi positivo em 15 das 29 amostras (51,7%), com isolamento de uma ou mais bactérias em cada amostra e com a seguinte distribuição — Haemophilus influenza 53,3%; Streptococus pneumoniae 33,3%; Haemophilus parainfluenza 20%; Branhamella catarrhalis 20%; Pseudomonas aeruginosa 20%.

  • A colonização com qualquer dos agentes associou-se a um aumento da frequência das agudizações (p=0,023).

  • Doentes colonizados com Haemophilus influenza reportaram mais sintomas na fase estável e maior purulência da expectoração na fase aguda.

  • Os níveis de IL-8 e a contagem total de bactérias na amostra de expectoração correlacionaram-se positivamente entre si (p=0,02).

  • Nos doentes colonizados com Haemophilus influenza verificou-se uma relação, embora não estatisticamente significativa, entre o maior grau de obstrução e a presença de colonização. Quanto ao tabagismo activo não se correlacionou com a colonização por este agente.

Os autores concluem que a colonização bacteriana das vias aéreas inferiores em doentes em fase estável, modula o carácter e a frequência das agudizações da DPOC.

COMENTÁRIO

Intervir na redução do número de agudizações da DPOC parece ser um objectivo primordial para o seu controlo, já que parece cada vez mais consensual que aquelas interferem na história natural da doença condicionando a qualidade de vida e o número de internamentos1,2.

É aceite que as agudizações da DPOC estão associadas a inflamação das vias aéreas e, o mesmo grupo de autores demonstrou que doentes com agudizações frequentes apresentavam maior inflamação das vias aéreas inferiores em fase estável, traduzida no aumento dos níveis de citoquinas (IL6 e IL8) na expectoração3.

No actual trabalho os autores, ao confirmarem que o nível de IL-8 se relaciona com a carga bacteriana, estabeleceram uma “ponte” entre colonização bacteriana, inflamação das vias aéreas inferiores e agudização da DPOC. Além disso, confirmaram também a relação significativa entre presença de colonização e frequência de agudização.

O grau de obstrução brônquica tem sido considerado como factor de risco para colonização das vias aéreas dos doentes com DPOC4. Neste estudo essa relação não foi significativa e, segundo explicação dos próprios autores, poder-se-á dever à não dispersão dos doentes pelos diferentes graus de obstrução de forma a permitir melhor correlação.

Esta centralização dos doentes num grupo com marcada obstrução brônquica poderá também justificar o elevado número de doentes colonizados (51,7%). Monso e colaboradores, num estudo em 40 doentes em fase estável encontraram culturas de expectoração positivas em 25% dos casos, com predomínio dos mesmos agentes encontrados no presente estudo5.

Do mesmo modo, outros estudos encontraram relação entre colonização e tabagismo activo 4,6, o que não se verificou neste estudo.

De realçar que das 94 agudizações, em doentes com obstrução grave (FEV1 médio de 38,7%), apenas 4 motivaram o internamento, reflectindo talvez o modo de organização dos serviços de saúde vocacionado para o apoio no ambulatório.

Apenas 54% dos doentes agudizados fizeram antibioterapia, não sendo referido com que base esta foi efectuada, nomeadamente a diferença entre a sua prescrição nos doentes colonizados e não colonizados. Na realidade, este estudo não investigou a etiologia das agudizações.

Embora demonstrada a relação entre colonização e agudização da DPOC, fica (ainda) sem resposta quais são os mecanismos que provocam mais agudizações nos doentes colonizados; se a agudização infecciosa é causada fundamentalmente pelo agente colonizador; se o doente uma vez colonizado poderá de novo apresentar as vias aéreas distais estéreis.

Palavras-chave:
Doença pulmonar obstrutiva crónica
Colonização bacteriana
Agudização
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BIBLIOGRAFIA
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T.A.R. Seemungal, et al.
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